23.8.05

...

Estou fechada. Nas escadas de um prédio. A porta atrás de mim, fechei-a. A que me separa da rua não se abre. Alguém a trincou com chaves e voltas.
Estou então, sentada nas escadas que dão às portas fechadas. Uma por mim. A que me não leva a sítio nenhum. De onde fugi. A outra, que me devolverá o que ainda não saberei, está fechada. Por outros. Que não me conhecem, a quem desconheço, mas que neste preciso momento que enraivecem de uma forma nunca sentida. Como estou sentada. Nas escadas.
Deixei que a luz se apagasse e não insisto para que se acenda. Ilumina a entrada, a luz do candeeiro do passeio. Essa luz que indica que o caminho é mesmo por ali e que não há que enganar.

Não me sentiria tão frustrada se não fossem três da manhã e a restarem-me cinco miseráveis horas de sono, que não contava em passar em frente ao passeio dentro de um prédio que não conheço, fechado por mim de um lado, e cerrado quase enterrado por outro lado por outros que não me conhecem!
Forma-se um nó em torno do meu pescoço. Como se uma corda pressionada por alguém que não sabe quem sou, mas que se ri. Por me ter encerrado entre uma porta que é de vidro e tem a rua por saída e outra porta de madeira que eu fechei por me encerrar de tristeza.

Sinto um sono profundo de amargura. Apercebo-me que naquele prédio não há noctívagos das noites agitadas, dos bares de gente e de estudantes ou só meliantes. É um prédio de gente que acordou anos a fio muito cedo e que agora se cansa pelo tempo adormecendo entre o jornal da noite e a novela.

Começo por desesperar.
E depois continuo a desesperar, desta vez, pela vergonha que sinto na situação em que me coloquei.

E depois de me sentir desesperada sinto-me cansada de estar tão cansada e sem paciência e cheia de vergonha e até uma barata que passa ao meu lado fecha os olhos pequenas de vergonha por mim, que lhe incomodo os passos nocturnos e escondidos das desinfecções mensais a que está sujeito o prédio. Anunciam as circulares da “empresa do condomínio, Lda.”, pregadas numa parede velha como os velhos que são os caros condóminos que me fecharam à chave num prédio com escadas para a rua numa porta de vidro.


E agora, não sinto nem vergonha nem desespero. Só um cansaço. Um cansaço de que já não me recordava. Nem em que circunstâncias o senti, para o sentir dessa maneira. Certo, é o cansaço profundo. De sentir que não sinto os músculos nem os pensamentos.

Volto então para trás. Acordo a campainha da porta de madeira que deixei nas minhas costas. Ela abre-se e eu enfio-me na cama. Quero dormir.
Amanhã, vê-se.

16.8.05

Outono forçado

Subi a marginal do Douro até Castelo de Paiva. O espectáculo é assombrador.
Entrou Portugal num Outono forçado que cheira a cinza e a restos. A paisagem tem tons dourados de Outono sombrio. As folhas que sobraram à força do fogo, caiem ao sabor de uma brisa quente de rescaldo. A terra é negra. Antes verde. São os restos do que foram encostas verdes.
Em baixo, o rio passa passivo e triste. Com barcos de turistas. Esses só sentiram o restou do cheiro dos pinheiros mentolados por eucaliptos, como se a Natureza tivesse esquecido o menu ao lume. Queimado.

1.8.05

The Simple Truth (I)

Portugal é um país complexo!

Ota e TGV
CGD e BES
PT e o PT

e depois admiram-se que ninguém perceba nada!!