30.7.07

À janela.

A manhã está quente. Da janela ouço carros impacientes.

O gato que se limpa demoradamente.

E tu deixas apenas a sombra dos passos que dás quando atravessas a rua para nunca mais te ver.

Os meus sentidos estão mais apurados. A dor não custa tanto, porque o sorriso é mais valioso.

Deixo-te o meu adeus. À janela.

Em piruetas falsas descobri que o salto está na janela, ao ver-te desaparecer.

O gato mia que tem fome.

O dia foge, como eu fujo todas as noites. Para um sol que é só meu. E à janela, que é um quadro só meu feito de girassóis.



À Carla


25.7.07



Parece-me bem. Um carrinho Português e que ainda por cima não é um utilitário nem sequer um SUV (para quem não sabe significa Sport Utility Vehicle - aprendam que eu não duro sempre!) é sim um maquinão com muitos cavalos e potências e motor que ruge. E é enorme. Gosto porque é giro, porque parece que foi desenhado para o Cars e porque parece que de lá de dentro vai sair o Gastão a qualquer momento!
E gosto porque é Português e gosto mesmo com todos os defeitos que se lhe possam apontar (já ouvi dizer que não é original, que consome mais do que o que anda, que o motor isto e falta-lhe aquilo...). Acho brilhante a arrojada ideia. E ainda por cima é giro. E caro. Caro a valer tanto como um Jaguar ou Mercedes. Gosto do vermelho ferrari, gosto das curvas redondas e cheias e não anorécticas como costumam ser os desportivos desta classe.
Não percebo nada de carros mas, parece-me muito bem.


9.7.07

Carros, muitos carros na Boavista



Carros, automóveis ou viaturas são isso mesmo. Cumprem a sua função. Transporte em segurança e conforto. Mas, nada mais do que isso. Achava eu.

Nunca havia descortinado qual a atracção ou emoção envolvida neste tipo de desporto. Era um grupo de loucos com muito dinheiro a fazer barulho com motores em binários extraordinários e velocidades impensáveis.
Nunca tinha percebido.

No desporto, seja ele futebol, volley ou salto em comprimento há a superação do ser humano de si mesmo. O corpo é o único instrumento. E tentam-se proezas de força e resistência. Percebo.

Nos Karts, Rallys ou Fórmulas, a superação é intelectual e vem sobre a forma de alumínio e injectores e caixas de velocidade reduzidas. O espectáculo não é humano. É mecânico e metálico. Não percebia.

Mas, é de facto espectáculo. Não posso negar. De todo. Como é impensável a superação humana a que o piloto se submete para ser o mais rápido, para ser o melhor. Na sua atenção e destreza. Á mercê de parafusos bem colocados e pneus quentes e temperados. Vi, pela primeira vez. Senti, pela primeira vez, a emoção nos gritos dos motores, no vento da velocidade. E é mágico. Admito.

Afilam-se na grelha, os carrinhos ocos cheios de adrenalina e os motores ensurdecedores, enquanto se aguarda que as luzinhas que são muitas fiquem bem vermelhas e embarcam em voltas de alucínio.

Percebi, junto ao ar salgado de areia da Boavista que é um jogo de emoções assistir a uma corrida. Ao contrário de outras modalidades, assistir desporto automóvel faz saltar arrepios na pele, zumbidos na cabeça que nos vertiginam. Nem sequer imagino o que deve ser praticá-lo.

As milhares de pessoas começaram a romaria ao circuito às 08h00 e compunham o cenário. Homens e mulheres. Passeavam os gelados entre corridas. Cães escovados passeavam os donos cima abaixo em cores de felicidades absolutas num Domingo barulhento.
E o silêncio era imenso antes das Partidas.
Os berros descolavam nas ultrapassagens. Nos “toques” e acidentes. Sem feridos. Só com exemplos de força interior, muita, muita. E uma garra esticada à vida.

Agora tenho respeito. Mesmo muito. Mas, é mais fácil, já sei o que é o Pit Lane, e o significado da bandeira azul e hei-de sempre assustar-me com o “ratér”.
Para a semana há mais.


Obrigada, Rui. Por tanto que me ensinas. Obrigada, . Por tanto que me revelas.