Levanta-se cedinho, dá um beijo à mulher, outro à mãe, que é um doce e chora de cada vez que presencia um acto de bondade, e sai para o café. Há milhares de coisas a tratar. Não é rico nem quer ser. Adora a condição de ter que trabalhar e recebe as contas fixas de telefone, luz e água com um prazer mórbido de quem tem um orgulho escondido por poder pagar.
Há já muitos anos que se dedica a servir cafés curtos ou compridos a senhoras e a senhores. Com jornal ou com cheirinho. Só para começarem a manhã.
Todos os dias, reclama sobre o Sporting com alguém. Elogia o governo, porque é preciso por ordem nisto e com um embaraço separa sempre uns restinhos do almoço para uma cigana de cabelo negro de fome que lhe mendiga uma sopa. Fiado, nunca!
Sente que esta juventude é mais alegre. Gosta de ver os cabelos de cores diferentes. Os brincos deslocados para outros lados do corpo que também é pintado como o dos índios. Só lhes lamenta a falta de crítica. Ai, que não fazem ideia do que é atravessar a fronteira com panfletos comunistas debaixo de dois quilos de roupa. Jacinto nunca o fez. Mas, suspira como quem era obrigado a frequentar a paróquia enquanto os vizinhos heróis eram com bravura torturados por uma PIDE nessa lide habitual. De tempos menos bons mas, com mais moral!
5 comentários:
agora, era uma boa hora para morrer
Jacinto, decepado acidentalmente por Apolo; dele jorrou o sangue que, ao tocar na terra, fez flor.
looooooooool
Obrigada, Ernesto!!!!
Temos muita tendência a desvalorizar o simples. Como se fosse nas coisas complicadas que está a felicidade.
fazes-me falta
beijo-te
alice
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