25.9.06















Margarida sentada no café.
Espera pelo café que não vai provar.
Margarida veste uma saia comprida.
Espera por alguém que não vai aparecer.

Foi a última vez que Margarida esperou.

Margarida tenta ler o jornal
Falha nas palavras cruzadas.
Nunca gostou de as fazer, a Margarida.
Mas, não morreu.
A Margarida deixou de viver.Nesse dia, no café.
Enquanto esperava sentada com a saia comprida.

Correm as pétalas atrás da memória que se ouve da Margarida.
Estendida, choram as margaridas da saia comprida.

Avistaram-se lágrimas cansadas antes que caísse.
Disseram ao vento que as levasse.

Mas o sol não deixou o vento chorar.
Ficou-se, sem (M)argaridas.

(Catfish, por Cydney Conger)



Saltei de uma varanda e fiquei redondo de fome.
Caí no chão e não me deram sobremesa.
Minhau?

13.9.06

Impío

Time. Francisco Goya. 1810-1812

Vai que não vai e o tempo não pára.
O tempo nunca chega. O tempo nunca espera.
Temo que o tempo nem sequer exista.

8.9.06

Há coisas que IRRITAM profundamente!

Não concebo, não percebo, não compreendo, não alcanço, o que leva as pessoas a pensar que pelo simples facto de possuir um telemóvel tenho obrigatoriamente que o atender! E fico ABSOLUTAMENTE nervosa, irritada, irada, possuída quando as chamadas se repetem umas atrás das outras, como se o ligar 20 vezes seguidas me vai convencer a parar o que estiver a fazer para atender o outro lado! Mas, claro que depois de 20 chamadas não atendidas em 10 minutos, o/a torturador(a) passa a atacar com mensagens. E as mensagens normalmente não são simpáticas, são cobertas de uma raiva que eu não percebo, uma ofensa incomensurável! Claro que os amigos pensarão: "olha, que pode ser urgente..." Não é! Nunca é. Se fosse da Santa Casa da Misericórdia a informar-me da minha vitória no euromilhões... Mas, não é. Nunca é! Já pensei descartar-me do objecto mas, a verdade é que estou demasiado dependente dele, confesso. Não tenho telefone fixo, não percebo nada das cabines de telefones públicos, não uso relógio, não uso agenda. Logo, dependo do bicho feito de chips e mms e sms para me ir orientando.
Juro que não percebi bem onde foi que eu assinei, que letrinhas pequeninas e em que folha declarava sob juramento o compromisso de aceitar e atender as chamadas que me fazem, no dia em que me tornei possuidora desta arma do demo.
Se somos independentes e livres e autónomos e adultos e racionais a propósito de quê deverei estar condicionada à vontade dos outros no que respeita a telefonemas? Porque deverei subjugar-me à vontade unilateral de alguém em conversar comigo? Porquê?.. se fui eu que paguei o telemóvel, pago as chamadas que efectuo, deverei vassalagem ao toque imbecil da criatura? Humpff! Estou tão mas tão mas tão irritada que nem me apetece dizer mais nada!

5.9.06

Ar

Emmet Gowin. 1969. Nancy


Aguenta que no mar cabe só esta onda.
Aguenta que o vento traga só mais um beijo.
Adormece. Que eu venho já.