7.7.06

Saiu de casa apressado. Pegou na mala de ferramentas e abalou. Diziam que era bom moço e muito bom trabalhador. Diziam que era amigo de ajudar mas, não falava muito. Era pouco dado à bola e aos copos. Alinhava na malha, de quando em vez. O que gostava mesmo era de ficar sentado na borda do passeio a traulitar canções e a inventar histórias sobre os pássaros. Os pássaros que lhe enchiam a retina e os ouvidos criados numa serra pequenina. Abalou para a fábrica. porque ía muito atrasado. Dizem que adormecera, o que era estranho, porque o rapaz deitava-se cedo. Nem ao café vinha. Só ao Sábado. Dizem que nunca lhe ouviram suspiros pelo totoloto ou pela partida para a cidade. Que gostava muito disto. Que não largava isto por nada. Era um rapaz muito jeitoso. Trabalhador...e humilde, muito humilde. Abalou. De vez. Mas, que não pode ter sido, que algo lhe aconteceu, será que foi assaltado pelo caminho? A Guarda não encontrou nada. Nem a família pode responder porque não sabe. Mas ainda ficou de passar cá a semana passada para me arranjar a porta do galinheiro. E ele nunca faltava. Ai que mundo este, Meu Deus...


(mérci bien, chére Mathieu Neuforge)

6 comentários:

Anónimo disse...

Outro texto lindíssimo, de uma história simples mas cheia por dentro, a brotar de um talento para falar de problemas e aspectos ontológicos da humanidade de uma maneira directa, que faz lembrar o Miguel Torga e os Contos da Montanha! E fazer isso não é nada fácil!
Um conto sobre um jovem num mundo injusto com o seu suspiro final e interrogação ético-moral.
Um conto de gente trabalhadora,com qualidades éticas, com sonhos parsos e que desaparece quem nem se dá conta que cá estiveram. E será que isso lhes vale de alguma coisa?
É isso que abordas aqui e muito bem!
Que mundo é este?

Muito bem Susie, outra faceta tua, para além de fazeres quadras de S. João todas catitas, sabes contar um conto e olha que nem toda a gente sabe contar um conto sem lhe acrescentar pontos a mais! Deixando de ser um conto e passando a ser uma biografia, ou um testamento!
Não posso dizer o quanto gostei de ler isto! Parabéns!
Perfeito!
Beijocas grandes,
Barbarella

Anónimo disse...

Recordações de uma "aldeia" amarela, ou memórias de um país esquecido, susie??
bjbjbjbjbj

Anónimo disse...

cá p'ra mim, o gajo, farto de não ter vocação para nada, pegou numa bicla e foi a pedalar até ao algarve..

Anónimo disse...

óh morcona.. quando é que apareces para irmos ao festival???? a noite é sempre no -3, que é o 3.º piso subterrâneo do parque de estacionamento da Praça José Régio.. uma espécie de "festas da garagem" (..) com dj's de luxo - the magnificent seven, miguel dias (triplex), carlos moura (ourigo) mosca (lá lá lá) etc.. etc..

Anónimo disse...

a tua sobrinha está com saudades.......

Susie disse...

Obrigada, Barbarella. Deixas-me sempre sem palavras.
O país anda esquecido. Verdade, Rux. Mil beijos.

E quanto ao Festival, amiguinhos: Contem comigo!!! Vou a caminho...mas essa do -3 deixa-me ó quanto insegura!?!;)