29.8.06

Frida

Manuel Alvarez Bravo . 1930. Frida Kahlo

Ela está sentada, à espera. As escadas parecem já desconfortáveis. Antes, sorriram boa ideia no pensamento.

Mas, ele não percebe.

No fundo, bem fundo ele não percebe.

O mais secreto desejo. Aquele que nem em razão se traduz nem em paranóia ou obsessão.

Porque é só aquilo que se quer.

Mesmo com dor. E não se diz a ninguém. Mantém-se apenas.

Dentro de um grito em surdina e que espera que não seja ouvido. Mas que aperta dentro do coração.

Lamenta.

Lamenta-se.

Não por ele. Mas para ele. Se calhar só depois de várias mezinhas, rituais e danças com água. Não assume a piada. Apenas afrontamento. Peca mais que tudo ao deseja-la de volta. Ao não querer saber de nada. Da fúria que se impôs.

Atira as culpas para o Karma.

Antes esquecer-se de vez. Do que nunca mais voltar. Porque seria mais fácil, não melhor para o que o afoga. Ao fundo. Porque no fundo é um ódio que lhe tem doce, doce. Virtudes do fel.

Se calhar. Se calhar é assim que se expurga de vez. Ai, quantas e quantas palavras destas lhe deixou. Se deixou.

Porque queria que chegassem ao coração e não passam do seu. Nem da folha branca de zeros e uns que nunca passa a papel.

E quando mais te quero menos te sei e sinto. distância.
E quando menos te queria mais te sentia.
sufoco.
Nunca mas, nunca serias meu sonho. Tornaste-te insónia.

Não se odeia por isso. Só não se conhece.

E ninguém faz ideia do que é a tortura. Faltam-lhe lágrimas porque as engole e engorda assim o fardo.

Esperam-se bem. Com mágoa. Porque não estás comigo?

10 comentários:

Rui disse...

Está sentada e, à sua volta, pairam perguntas.
Aguarda alguém que as responda ou aguarda apenas pelas respostas?

Anónimo disse...

tou convencido que é preciso uma noite de copos ! :)
Óh da mota!!!!! tratas disso?
A Frida tá ferida....

Susie disse...

Rui, acho que ela espera mas só por alguém. Sem respostas. Porque as perguntas já não são dela. Deixaram de o ser.

Oh, -3, pois tá! Essa promessa dos copos que fica sempre por cumprir...

Anónimo disse...

Não sei se os copos curam tudo, mas mal de certeza não fazem...se um gajo tiver stago consigo, é claro! Mas se a Frida Susie for, de certeza que arranja disso para o pessoal.
Por isso, ó senhor da mota, trata mas é de combinar, que o pessoal quer é copos, com muitos liquidos lá dentro!!
E já agora, susie mor, eu fui a única que percebi o porque da fotografia da frida e tão bela composição juntas.
É por causa das sombrancelhas!!!!
Pensavas que me enganavas???
love you

Susie disse...

Leelooo, só te deixo um comentário: loooongo suspiro!(é que a esteticista está de férias;))

alice disse...

fabuloso post, amiga ;)

adorava ler-te mais...

espero que continues a escrever

um grande beijinho para ti

as saudades são cada vez maiores

alice

Gonçalo Veiga disse...

Oi. Quero dar-te os parabéns pelo blog fantástico que aqui tens. Tenho também, em conjunto com um amigo meu, um outro de poesia chamado http://poesiaparaninguem.blogspot.com .

Se quiseres passar pelo nosso site também estás convidada. O nosso site serve para divulgar os recitais de poesia que fazemos, um pouco por todo o país. O endereço é http://poesiaparaninguem.tripod.com .

Abraço,

G.

Anónimo disse...

Tocaram na frida!

Vamos lá tratar da "noche loca"!
sobrancelhas farfalhudas,
Afasta-se para os lados
e está a questão resolvida!
com uns copitos, não há pilosidades
a impedir de chegar à bebida.
Estou d'água na boca
ala que se faz tarde,
a melancolia sairá de vez!
Já vejo fridas alegres, a saltar
aos tombos nas escadas do -3
e.. venham elas
cinzentas, azuis ou amarelas
com buço em caras singelas,
há algo que fazer!
Pode ser mesmo na praça
onde os copos não são de graça..
mas.. não seja por falta da massa
que fique a Frida sem beber!

Anónimo disse...

licinha querida...
continuas em grande!
Já lês a susie.. boa, boa.
Sugiro a versão traduzida e comentada em sânscrito.. demais!

Anónimo disse...

Adorei este post! A Frida com as entrahas de fora psicologicamente e fisicamente, à espera de um elefante que nunca mais aparece.
Um Dumbo de uma fantasia com orelhas que dêm para voar e para a levar de uma morte irónica e tão prematura.
Capturaste a vida, a morte a eterna questão que se calhar só pode ser resolvida por um minuto num fundo de uma garrafa de um cheiro forte.
Continua assim, livre para questionar
Beijocas,
Barbarella