2.10.08



(foto de João Coutinho)

Ela tem um peso enorme sobre o peito. Sente o mar frio a rebentar aos seus pés e despede-se da inocência. Pede aos céus que lhe lave as lágrimas desfeitas na areia de água muito fria. Porque podia haver dores piores.

Por fim, senta-se. Desistindo.

Foi há muito tempo atrás, na sua ilusão de menina de tranças que achava que iria ganhar o mundo. E foi na desilusão de crescer que percebeu perder-se. Do mundo.

Ela tem as mãos frias de tudo. Sente o ar fresco e agradece. O sangue que sente escorrer nas veias não é dela. De ninguém.

Os meninos um-dó-li-tá correm na bolina à sua volta. Sabe que não percebe nada. Não sente.

Porque foi há muito tempo atrás que lhe prometeram mentiras. E não sabe quando voltam os carrascos que lhe vão arrancar essas verdades pastel, cor da lua.

“Um, dois, três, macaquinho chinês”. O que foi suposto. Só. Não termina. Ergue as pernas que a vida começa aqui.

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